O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) José Maria Marin e outros seis dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) foram presos na manhã desta quarta-feira (27) em Zurique, na Suíça. A polícia daquele país efetuou as prisões a pedido Departamento de Justiça dos Estados Unidos, onde corre um processo sobre corrupção na organização.
Outro brasileiro indiciado pela Polícia Federal norte-americana (mas que está em liberdade) é J. Hawilla, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina e proprietário da TV Tem, afiliada à Rede Globo no Interior.
Quanto a José Maria Marin, ele é acusado de ser o delator do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar. Quando ocupava o cargo de deputado estadual, em 1975, utilizou a tribuna da assembleia legislativa paulista para acusar Vlado de transformar a TV Cultura em um reduto de comunistas, em pleno período da repressão.
Por trazer esta denúncia a público, o jornalista Juca Kfouri foi processado por Marin e posteriormente absolvido. “Juca teve a coragem de denunciar e publicar os discursos de Marin na Assembléia Legislativa onde ele denunciava Vladimir Herzog abertamente e pedia repressão ao telejornalismo da TV Cultura, dirigido por Vlado, que acusava de subversivo, comunista, aquelas coisas que conhecemos bem. Isso, mais as notas do então jornalista dedo-duro chamado Claudio Marques, que escrevia “O hotel da rua Tutóia (Doi-Codi) está esperando a turma da TV Viet Cultura…” mais as ligações dele e outros deputados com a repressão levaram, com certeza, à prisão, tortura e morte de Vladimir Herzog”, lembra a diretora do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Rose Nogueira.
J. Hawilla
Além de Marin, outros dois brasileiros são citados pela Justiça norte-americana no escândalo de corrupção entre a Fifa e empresas de marketing e transmissão esportiva.
Um deles é o réu confesso José Hawilla, dono da TV Tem, retransmissora na Globo no Interior paulista.
O departamento de Justiça revelou que J. Hawilla teria confessado culpa, em dezembro do ano passado, por acusações de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça – ele é o único brasileiro entre os réus confessos declarados culpados pela Justiça dos EUA.
O caso envolvendo Hawilla, uma das figuras mais proeminentes do futebol nacional, só veio a público na manhã desta quarta-feira, com a divulgação da nota do departamento de Justiça, onde aparece com destaque.
Segundo a nota do governo dos EUA, o executivo teria concordado com o confisco de US$ 151 milhões de seu patrimônio – US$ 25 milhões deste total já teriam sido pagos no momento da confissão.
A Traffic teve exclusividade na comercialização de direitos internacionais de TV da Copa do Mundo da Fifa no Brasil, em 2014. O empresário brasileiro também foi o responsável pelo contrato celebrado em 1996 entre a Nike e a seleção brasileira – alvo de uma CPI, encerrada em junho de 2001 sem desdobramentos práticos.
Foto: CBF – J. Hawilla (em primeiro plano) com José Maria Marin