O atraso de 40 anos do Brasil em punir golpistas, hoje cobra seu preço, caríssimo. As cenas vistas na Câmara dos Deputados na noite deste 9 de dezembro de 2025 entram para a história como a mais grave agressão pública já promovida pelo parlamento contra jornalistas.
Até nos tempos sombrios da ditadura militar havia a preocupação de manter uma aparência de legalidade, de normalidade. A violência, altamente letal, ocorria primordialmente nas sombras.
Hoje, não. Os atuais títeres nem se preocupam em fingir. Para defender os interesses econômicos de quem os sustenta, atacam sem pudor, arrancam jornalistas à força de dentro da casa do povo, do parlamento, colocam aparatos de segurança para agredir deputados, tudo ao vivo, diante de todos.
O descaramento é tamanho que nem lhes passa pela cabeça ficarem constrangidos por tentarem esconder a atitude criminosa desligando a transmissão da TV pública que mostrava a barbárie em tempo real para a sociedade.
E não se trata de uma ação isolada, de uma falha, de um exagero provocado pelo calor do momento, é método. Não por coincidência, perfis de deputados de esquerda e até da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) deixaram de aparecer nas buscas do aplicativo Instagram.
Se alguém ainda tinha dúvidas de como os algoritmos e as bigtechs operam manipulando e controlando a circulação de conteúdo, aí está a prova mais cabal.
E a cereja do bolo, que não permite outra conclusão se não a de que foi tudo milimetricamente calculado pelo presidente da Câmara Hugo Motta, veio na sequência dos horrores da violência: pautaram e aprovaram na madrugada o projeto de anistia, que reduz também a pena de Jair Bolsonaro.
O cenário não poderia ser mais claro: o golpe ainda está em andamento, com financiamento de quem patrocina as bancadas mais reacionárias do Congresso.
Não é possível que tenham sido em vão as mortes do jornalista Vladimir Herzog, do deputado Rubens Paiva e das milhares de vítimas da ditadura militar.
Ou nós reagimos à altura, ou nós reagimos à altura. Não há alternativa.


