Após reunião organizada pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, as e os jornalistas demitidos pela CNN Brasil na última semana se reuniram para escrever uma carta aberta que expressa a posição coletiva dos profissionais diante desta situação.
Nesta quarta-feira, 7 de dezembro, o Sindicato teve reunião com a empresa, expressando a posição dos jornalistas demitidos e realizando a leitura da carta. Na reunião, a entidade reforçou que não foi consultada previamente pela empresa, o que seria obrigatório de acordo com entendimento do STF para as demissões coletivas.
Após reivindicar a reintegração dos demitidos para que se abrisse uma oportunidade de diálogo e negociação, o Sindicato afirmou à CNN Brasil que realizará uma nova reunião com os jornalistas demitidos para discutir coletivamente possíveis propostas a serem apresentadas à empresa.
Por fim, o Sindicato também se coloca à disposição dos jornalistas que continuam a trabalhar na empresa e convivem com a pressão diária para dar conta do trabalho com uma equipe ainda mais reduzida. A luta por direitos é para todas e todos.
Leia abaixo a carta aberta produzida pelos jornalistas demitidos da CNN Brasil:
“Nós, profissionais demitidos pela CNN Brasil no começo de dezembro, queremos formalizar nosso entendimento e posição sobre o ocorrido.
Após um período intenso de cobertura eleitoral, com plantões extras e sobrecarga de trabalho, e após uma nova onda de casos de Covid-19 na redação em novembro, mais de cem profissionais da CNN foram surpreendidos pelas demissões. Até mesmo profissionais envolvidos em coberturas em andamento como as da transição de governo e da Copa Mundo foram demitidos, o que reforça a surpresa geral diante da decisão da empresa.
Neste início de dezembro, os profissionais demitidos foram convidados um a um pelos diretores a comparecem a uma sala de reuniões situada ao lado do local de trabalho de colegas das equipes de Rádio e de Cortes. Uma representante do RH da CNN também estava na sala.
A justificativa das demissões era a “reestruturação” da empresa. Os diretores enfatizaram que as demissões não tinham relação com o desempenho dos profissionais, mas não deixaram claro quais foram os critérios para escolher os demitidos.
Imediatamente, foi solicitado aos profissionais que assinassem formulários apresentados pela empresa, entregassem os crachás e computadores e deixassem a redação.
Também houve casos de profissionais em home office que foram demitidos.
Foram desligados diretores, âncoras, comentaristas, analistas, editores, produtores, repórteres, redatores, designers, integrantes das equipes de redes sociais, além de secretárias e técnicos que atuavam nos estúdios.
O total de demitidos representaria de 15% a 30% da força de trabalho da empresa, das áreas de Jornalismo e administrativo. A estimativa é de 140 profissionais demitidos. Contando também com colegas da sede do Rio de Janeiro, uma vez que a sucursal da cidade foi fechada.
Entendemos que a ação caracteriza-se como demissão em massa, ocorrida em período pré-festas de fim de ano, onde é mais difícil a recolocação profissional.
Diante de rumores surgidos em novembro de que poderia haver demissões na redação, alguns profissionais questionaram seus superiores sobre tais boatos. No setor Digital da redação, por exemplo, em uma reunião feita no fim daquele mês, os profissionais foram informados de que os cortes, se ocorressem, não atingiriam a equipe.
No entanto, ao contrário do informado pela direção, o Digital não passou ileso. Doze profissionais deste setor, de diferentes cargos, foram dispensados. Um deles, inclusive, fora comunicado publicamente sobre uma promoção havia cerca de 15 dias, em uma reunião da equipe. Tal profissional passou pela vexatória situação e o constrangimento de ser promovido e dispensado em seguida.
Além de envolvidos nas coberturas da transição de governo e da Copa do Mundo, também foram demitidos profissionais envolvidos em outros trabalhos em andamento.
Alguns estavam, havia dias, preparando uma cobertura especial com participação, inclusive, do comercial da empresa e foram demitidos minutos antes de iniciarem a cobertura do primeiro dia de evento, com tudo pronto: produção e credenciais. O carro da equipe cinematográfica já estava esperando no subsolo para levar todos ao local quando receberam a notícia de que funcionários foram demitidos.
No dia da demissão, pouco antes do horário de entrada, funcionários receberam uma informação via aplicativo de mensagem de que a programação sofreria uma mudança, sem receber detalhes se as alterações seriam no formato do telejornal, possíveis novos quadros ou alguma dinâmica diferente na hierarquização das informações. Ao chegar na empresa, não houve qualquer explicação. Pelo contrário, o ambiente só se tornou mais confuso com demissões seguidas sob a alegada reestruturação.
Destacamos também como extremamente constrangedor e desrespeitoso o reforço de seguranças no prédio no dia das demissões. Havia um profissional na porta do switcher, com uma lista de nomes determinando quem podia ou não podia entrar. Tal ato demonstra um receio da empresa de que houvesse represália por parte dos demitidos, uma ação extremamente desumana. Alguns profissionais foram impedidos de despedir-se dos colegas, sendo convidados a se retirarem do prédio brevemente.
Ponto eletrônico
Ao longo do período em que trabalharam na CNN, os funcionários demitidos enfrentaram falhas recorrentes no sistema do ponto eletrônico, principalmente para jornadas que ultrapassavam o dia/noite (madrugada). Exemplo: entrada às 22h e saída às 5h. O sistema não entende como saída às 5h e, sim, como entrada e início de turno. Dessa forma, o sistema deixa as horas negativas. Era necessário, então, abrir chamado, via sistema Cervelo, para avisar o RH. Isso acontecia todas as vezes em que o turno se iniciava num dia e terminava no outro.Convênio Sulamérica
Os funcionários demitidos questionam o prazo de permanência no plano de saúde da Sulamérica. Para alguns, o prazo será de 36 dias a partir do dia 5/12. Eles questionam se seria possível estender esse prazo ou até mesmo continuar sendo beneficiário do plano de saúde empresarial, obviamente arcando com as despesas.Dias trabalhados em feriados que seriam compensados no recesso de dezembro
Ao longo do ano, os profissionais trabalharam diversos feriados nacionais com a justificativa de que estes dias virariam horas extras e que essas horas extras seriam compensadas com folgas no Natal ou Ano Novo. Mas e agora?Solicitamos explicações e transparência sobre todo o processo ocorrido, lembrando que a demissão de dezenas de profissionais teve grande repercussão na mídia e que o comportamento da empresa surpreendeu, expôs e fragilizou os profissionais.
São Paulo, 07 de dezembro de 2022″