Fascistas fracassaram na tentativa de cassar seu mandato e não conseguiram calar sua voz opositora à guerra no parlamento
A pedido do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Nathaniel Braia, editor de Internacional do jornal Hora do Povo, entrevistou o deputado israelense Ofer Cassif, que teve ameaçado seu mandato de membro do Knesset (parlamento) simplesmente por ter dado razão à iniciativa da África do Sul de processar Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, por genocídio, devido ao covarde e implacável bombardeio a que vem submetendo 2 milhões de palestinas e palestinos encurralados na Faixa de Gaza, e que já produziu quase 31 mil mortes e 72 mil feridos.
Os deputados que tentaram cassar o mandato de Cassif não tiveram sucesso, pois eram necessários 90 votos dos 120 deputados para afastá-lo do parlamento, e a proposta de cassação obteve 85 votos. O governo Netanyahu e seus apoiadores no Knesset buscam silenciar todas as vozes opositoras, inclusive mediante assassinatos e prisões de jornalistas palestinos atuantes na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Cassif foi eleito pela coligação do partido Haddash (comunista) com o partido árabe israelense Ta’al. A seguir a entrevista:
Nathaniel Braia – Em primeiro lugar, nossas saudações pela vitória no Knesset derrubando a tentativa de cassação de seu mandato. Como foram os trâmites persecutórios contra você e por que razão alguns não o querem aí no parlamento?
Ofer Cassif – Antes de tudo, obrigado pelas saudações. Oitenta e cinco dos 120 deputados votaram contra o meu mandato, não realmente porque acham que eu tenha violado a lei, mas simplesmente porque querem silenciar todas as vozes que se opõem à guerra e à ocupação e que expressam empatia com os cidadãos inocentes de Gaza. Essa é a razão verdadeira.
Braia – Em que medida essa tentativa de lhe tirar do parlamento agride a democracia?
Cassif – Israel nunca foi realmente uma democracia, é uma etnocracia. A democracia inclui como conceito mínimo a igualdade entre todos os seus cidadãos. Em Israel, desde o primeiro dia de sua existência, existe uma instituição de supremacia judaica. Portanto, não é uma democracia e isso se agrava desde a ocupação de 1967, sob a qual milhões de palestinos vivem sem direitos básicos. Mais ainda, os direitos democráticos que os cidadãos judeus tinham estão sendo agora eliminados. Desde o 7 de outubro há uma perseguição sistemática e um silenciamento de vozes de oposição, inclusive mediante a violência contra as famílias dos assassinados e reféns desde o 7 de outubro.
O governo de Netanyahu e Ben Gvir está convertendo o regime israelense em um regime ditatorial e totalmente fascista. Esse governo de um bando de assassinos fascistas está sacrificando a vida de palestinos, estendendo essa agressão e com isso sacrifica reféns e soldados israelenses, tudo para se manter no governo .
Braia – Um grupo de palestinos, segundo o jornal Haaretz, estava em uma fila aguardando ajuda humanitária e foram mortos por artilharia israelense…
Cassif – Uma vez mais se produziu um terrível massacre. Foram disparos contra centenas de palestinos famintos e muito angustiados. Eles não atacavam, apenas estavam aguardando caminhões com comida. Mais de cem pessoas foram assassinadas e várias centenas ficaram feridas. É terrível. É terrível.
“Sob a fumaça e as explosões
da guerra em Gaza, o governo
de Israel agravou a limpeza
étnica na Cisjordânia”,
adverte Cassif
Braia – E sobre os riscos ainda maiores da alardeada invasão de Rafah por Israel?
Cassif – A invasão de Rafah seria catastrófica. Provocaria uma matança de palestinos e também levaria à morte reféns e soldados israelenses. É preciso que se evite isso. Na minha opinião os crimes que o governo israelense comete em Gaza conduzem definitivamente ao genocídio.
Braia – Como vê atuação do grupo Juntos de Pé, que reúne judeus e árabes pela paz e igualdade e atua dentro de Israel neste sentido?
Cassif – É muito meritório o trabalho deste grupo, mas não é o único. Há muitos grupos de judeus e árabes atuando pela paz, contra o racismo e pela igualdade em Israel. Há dezenas de grupos contra a guerra, contra a ocupação, que fazem um excelente trabalho por aqui.
Braia – Enquanto o mundo todo está de olho no que ocorre em Gaza, há também um aumento da agressão na Cisjordânia, não?
Cassif – Sob a fumaça e as explosões da guerra em Gaza, o governo de Israel agravou a limpeza étnica na Cisjordânia. Os colonos judeus atacam violentamente os palestinos todos os dias, mais que uma vez por dia. O exército de ocupação permite e o governo alenta.
Braia – E, por fim, como vê essa quantidade de jornalistas assassinados?
Cassif – Essa escala de jornalistas assassinados é algo intolerável. Isso se deve à política do governo israelense, não de todo o país e muito menos de sua população como um todo. Do governo. Que quer evitar a todo custo a crítica contra si.
É interesse de todos os israelenses que tenhamos outro governo. Um governo de paz, não um governo de guerra. Um governo de igualdade, não de racismo.
A política deste governo atual é devastar o mais possível tudo que há em Gaza. É crime absoluto.