Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Logo da Federação Internacional de Jornalistas
Logo da Central Única dos Trabalhadores
Logo da Federação Nacional de Jornalistas

Fake News, desinformação e financiamento do Jornalismo foram temas de debate no SJSP

Fake News, desinformação e financiamento do Jornalismo foram temas de debate no SJSP

Na última segunda-feira (13), o Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo promoveu o debate Fake News, Big Techs e Eleições 2022, diretamente do auditório Vladimir Herzog, com transmissão pelas redes sociais. [Assista a transmissão aqui] As práticas de desinformação e o financiamento do jornalismo pelas big techs foram os temas debatidos.

Sérgio Amadeu, da Universidade Federal do ABC (UFABC), reforçou que a desinformação está para além das fake news ao divulgar uma notícia verdadeira e antiga fora de contexto, gerando a percepção de que a informação é verdadeira, mas não é. “A desinformação não é um erro, não é um boato, não é um político que mente, não é alguém que está mentindo na eleição. A desinformação, hoje, é uma estratégia de um grupo político que tem ramificações planetárias que resolveu destruir a democracia. Esse grupo é chamado, por alguns pesquisadores, de populismo de direita. Eu prefiro chamar de fascismo”, disse Amadeu.

O deputado federal Orlando Silva também destacou a desinformação como um mecanismo e uma estratégia para formar a opinião pública e influenciar o voto, por isso combater as fake news é, na opinião dele, sustentar os valores democráticos e a democracia. O deputado centrou seu debate no PL 2630, das Fake News, que tramita na Câmara dos Deputados.

Já Marina Pita, da Coalizão Direitos na Rede, abordou a questão do financiamento do jornalismo pelas plataformas. Para ela, a proposta do PL 2630 das Fake News avança, mas é insuficiente. Por isso, a Coalizão Direitos na Rede propõe a criação de um Fundo e discute a necessidade em envolver a categoria na definição dos critérios de financiamento para garantir que o jornalismo de qualidade, plural, comprometido em problematizar questões e fiscalizar o poder seja beneficiado com a medida.

PL das Fake News

Conhecido como PL das Fake News, o PL 2630 foi debatido na Câmara dos Deputados na busca de transparência da operação das plataformas digitais. Segundo Orlando Silva, um conjunto de operações das plataformas é de conhecimento público em outros países e o mesmo não acontece no Brasil. “É necessário buscar a transparência das informações destas plataformas para que posamos buscar e atuar em defesa do interesse de seus usuários”, afirmou o deputado federal.

A sugestão de Orlando Silva é de que as plataformas controlem a disseminação e viralização das mensagens por meio da guarda de informações de cadeia de encaminhamentos para que, por meio de um comando judicial, seja possível obter um extrato reduzido de informações e se chegue ao principal difusor das fake news. Segundo o deputado, esta proposta gera tensão ao ir de encontro com o objetivo dos aplicativos de mensagens, que buscam ampliar ferramentas que multipliquem as mensagens.

O deputado federal destacou três aspectos importantes do projeto de lei, como: a aprovação de um tipo penal para organizações criminosas que se utilizem de robôs e serviços não autorizados pelos aplicativos para difundir fatos inverídicos que possam comprometer a eleição; a garantia de que a regulação proposta pelas plataformas sejam validadas por algum ente e o estabelecimento de critérios para valorizar o jornalismo.

“É justo valorizar o conteúdo jornalístico, porém considero equivocado estabelecer que o buscador determine e selecione quem será financiado. Deve se estabelecer um padrão e a lei deve ser melhorada neste ponto para garantir a remuneração do jornalismo e do jornalista”, declarou Orlando Silva.

Modelos de financiamento jornalístico

Ao abordar a garantia de sustentabilidade do jornalismo por meio das plataformas, Marina Pita marca posição ao afirmar que não é qualquer jornalismo que se deve defender e, sim, o jornalismo plural e independente.

Além disso, a representante da Coalizão Direitos na Rede destacou os modelos de financiamento já existentes no mundo e o que está sendo proposto no Brasil. Marina destacou que Orlando Silva já apresentou um novo texto na Câmara, melhorando a proposta inicial do PL 2630, no entanto, a proposta reforça a sustentabilidade de grandes agentes privados.

Enquanto o modelo australiano obriga a negociação entre as plataformas e as empresas jornalísticas, o modelo europeu faz o reconhecimento de um direito especial do jornalismo, obrigando as plataformas a remunerarem pelo uso de pequenos trechos. No Brasil, diz Marina, o que se defende é um modelo híbrido.

No entanto, Marina considera que a ausência de um agente regulador do Estado, como acontece na Austrália, não garante equidade e transparência das negociações. “Quero salientar que esse modelo dá mais poder para as plataformas porque quando vemos o Google fechar acordo com veículos, inclusive de esquerda, quem vai definir o valor são eles e não tem dispositivo que garanta a transparência. Que sustentabilidade você pode garantir para o jornalismo se ele desaparece da luta?”, provoca.

Para Marina, o que vai garantir o financiamento do jornalismo de qualidade é a criação de um Fundo, que permita discutir quem o financia. “Por que a gente pode aceitar que as empresas de telecomunicações têm que contribuir para a comunicação pública e para o setorial de audiovisual e as empresas de conteúdo da internet não devem fazer essa contribuição para financiar o conteúdo jornalístico?”, diz Marina.

A solução apontada por Marina Pita vai além da criação do Fundo e propõe o envolvimento da categoria. Segundo ela, não devemos permitir que as empresas de tecnologia definam o que é jornalismo e qual é o jornalismo que deve ser financiado. Para tanto, é necessário garantir que os próprios jornalistas estabeleçam quais são os limites éticos e as práticas esperadas que definem o tipo de jornalismo que deverá ser financiado.

Big Techs X democracia

Amadeu destaca que o controle de informações pelas plataformas tem afetado as democracias no Brasil e no mundo. Segundo ele, é preciso regular as plataformas para além do esforço já feito atualmente. “Precisamos de mais: de direito de auditoria e de gente capaz de saber as regras de negócio de cada algoritmo que controla o que vemos na plataforma. Precisamos saber se um discurso não está sendo diminuído em relação a outros”, pontua o professor.

E é juntamente nas plataformas, controladas por agentes privados e com interesses próprios, nas quais o jornalismo está sendo organizado. Sérgio Amadeu pondera que não é possível dar à plataforma o poder de negociar o que é ou não informação, o que é ou não veículo, pois isto fortalece as big techs que possuem regras próprias sem nenhuma transparência. Assim como a definição do que é ou não informação, veículo jornalístico ou relevância não podem ficar sob a responsabilidade das big techs, Amadeu defende que a remuneração jornalística não pode ser definida nas regras da plataforma, como pelo alcance. “Vamos dar um tiro no pé da democracia porque nem sempre o que é verdadeiro e tem relevância tem alcance”, conclui.

veja também

relacionadas

mais lidas

Pular para o conteúdo