Na quinta-feira, 14 de setembro, a partir das 19h30, será realizada no Auditório Vladimir Herzog, do Sindicato Jornalistas de São Paulo uma atividade comemorativa dos 22 anos de existência da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial – Cojira SP, fundada em 11 de setembro de 2001. O evento terá como atração principal dois dos fundadores e fundadoras da Comissão: uma conversa entre os jornalistas e escritores Oswaldo de Camargo e Oswaldo Faustino. O tema será “Jornalismo, Literatura e Negritude”, com mediação de duas jornalistas integrantes da Cojira, Beatriz Sanz e Thais Folego.
Na manhã de 11 de setembro de 2001, em uma sala de reuniões do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, um grupo de jornalistas negros assistiu pela TV as imagens do incêndio em uma das torres gêmeas World Trade, enquanto discutia o caráter de um organismo de combate ao racismo que havia criado um ano antes. Em junho de 2000, a partir de uma proposta do jornalista de Piracicaba Noedi Monteiro, o núcleo inicial que realizou esse debate havia se denominado Comitê Permanente de Jornalistas Negros. Porém, no decorrer do primeiro semestre de 2001, abriu-se um debate político naquele coletivo sobre a pertinência da inclusão em seu nome da palavra “negros”. No final desse processo, a maioria dos participantes daquele quadro de discussões apoiou a ideia de que a permanência daquela denominação poderia se tornar um obstáculo à participação de não negros nas atividades a serem implementadas. Como resultado desse consenso, foi adotado um novo nome: Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, resumido na sigla Cojira.
O manifesto de lançamento da Cojira SP apontava a necessidade da produção de informações sobre a desigualdade racial no interior da categoria, como condição necessária para a elaboração de políticas voltadas para a promoção da equidade; falava também sobre a necessidade de aumentar a presença de profissionais negros nos locais de trabalho de jornalistas, inclusive para reduzir as coberturas estereotipadas e, ainda nesse sentido, ressaltava a necessidade de ações que melhorassem a compreensão da questão racial tanto por parte dos profissionais já atuantes quanto dos estudantes de jornalismo; o texto declarava ainda a intenção da comissão de acompanhar e divulgar o trabalho da imprensa negra. Assinam o documento Amélia Nascimento, Benedito Egydio dos Santos, Esmeralda Ribeiro, Flávio Carrança, Francisco Soares, Maurício Pestana, Oswaldo de Camargo, Oswaldo Faustino, Paulo Vieira Lima, Ricardo Alexino Ferreira e Ronaldo Junqueira.
A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial – Cojira SP, órgão de assessoria à diretoria do Sindicato aberto à participação de profissionais com registro, teve e tem um papel importante no despertar e aprofundamento do debate sobre a desigualdade racial no interior da nossa categoria e das empresas do setor. Atualmente, entre outras atividades, é uma das entidades que protagonizam A Articulação Pela Mídia Negra, que discute com o atual governo a elaboração e implementação de políticas de apoio a veículos liderados por jornalistas e comunicadores negros, quilombolas, indígenas e grupos sub-representados e periféricos de todo o Brasil.
Merecem destaque, entre as inúmeras atividades que a Cojira SP realizou e está realizando nessas duas décadas, o relançamento, em 2002, da obra Imprensa Negra de Clóvis Moura e Miriam Nicolau Ferrara, coletânea de estudos e fac símiles de jornais do início da imprensa negra paulistana, cuja tiragem de 2.500 exemplares foi, em grande parte, doada a bibliotecas públicas do estado de São Paulo, universidades, entidades do Movimento Negro, sindicatos, além de professores e outros estudiosos de todo o país. Também deve ser assinalada a publicação, em 2004, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – Imesp e por Geledés – Instituto da Mulher Negra, do livro Espelho Infiel: o negro no jornalismo brasileiro, coletânea de artigos organizada por Flavio Carrança e Rosane da Silva Borges.
Durante seus 22 anos de existência, a Cojira SP promoveu cursos, palestras e lives abordando temas que relacionam ao jornalismo e questão racial, atividades que realizou com parceiros como a Coordenadoria do Negro do Município de São Paulo, Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, ONU Mulheres, Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e Museu Afro Brasil, Sindicato dos Bancários, Sindicato dos Comerciários, Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese, Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – Ceert, National Association of Black Journalists (NABJ) e muitas outras entidades.
Atualmente, as Cojiras estão atuantes nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Bahia (Diretoria de Relações Raciais -BA), Ceará, Pará, no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul (Núcleo de Jornalistas Negros do RS), reunidas na Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Étnico-Racial (CONAJIRA), no âmbito da Federação Nacional dos Jornalistas.