A greve dos jornalistas da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), de Campinas, completa 160 dias nesta terça-feira (24) e, na manhã do último sábado (21), os profissionais realizaram um protesto na Praça da Catedral, no centro campineiro, com caminhada até o Centro de Convivência.
Os grevistas distribuíram uma Carta Aberta (leia abaixo) denunciando a intransigência e o descaso dos proprietários do Correio Popular e do Notícia Já diante da grave situação enfrentada pelos jornalistas devido ao atraso de pagamento de salários e benefícios.
A mobilização contou com apoio da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT São Paulo), da Subsede da CUT Campinas e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP).
A greve, que começou em 14 de fevereiro, é a maior da história do jornalismo no estado de São Paulo, e considerada legítima e legal pelo Tribunal Regional da 15ª Região (TRT15-Campinas) em julgamento no último dia 9 de maio. O TRT condenou a RAC a pagar o que deve aos profissionais, mas em vez de cumprir a decisão do Tribunal, a empresa pediu embargos de declaração, um meio jurídico para pedir esclarecimentos da sentença que faz com a que a rede ganhe tempo para continuar protelando os pagamentos.
Depois de várias tentativas de acordo que terminaram sem sucesso devido à intransigência da empresa, cruzar os braços foi a única alternativa dos jornalistas depois de mais de dois anos enfrentando os constantes atrasos de pagamento.
Dívida é ampla e empresa continua descumprindo sentença do TRT
Além dos salários e benefícios que estão em aberto desde fevereiro, a RAC deve o 13º de 2017, o adicional de um terço aos que saíram de férias nos últimos dois anos, seis meses de vale alimentação, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e contribuições previdenciárias, mais os dias parados durante a greve.
Coordenador da CUT Campinas, Carlos Fábio, o Índio, afirmou que é urgente que a questão dos pagamentos seja resolvida “para terminar com esse impasse de uma vez por todas. A empresa tem que cumprir a sentença determinando o pagamento dos salários e precisar parar com esses atrasos salariais, de benefícios e contribuições porque é inadmissível que se trabalhe de graça. Se a RAC não cumprir, teremos que engajar quem continua trabalhando e impedir que os jornais continuem sendo produzidos”, criticou.
Ao lado dos grevistas, Lílian Parise, secretária de Comunicação e Cultura do SJSP, fez a leitura da íntegra da Carta Aberta durante o protesto e, durante a panfletagem, muitos dos que receberam o documento não sabiam que os trabalhadores e trabalhadoras da rede não estavam recebendo salários desde fevereiro. Segundo a dirigente, “é fundamental que a população de Campinas e região saiba que os donos da RAC desrespeitam e exploram trabalhadores que resistem há quase 160 dias contra a intransigência do grupo de comunicação. São esses batalhadores que mantêm a credibilidade da empresa e não os proprietários da RAC”, diz a sindicalista.
Entre outros sindicalistas, o ato protesto também teve a participação de Marcos Rodrigues Alves, diretor de base do Sindicato dos Jornalistas em Campinas.
Feijoada Solidária teve mais de 200 participantes
Devido à grave crise financeira pessoal e familiar enfrentada pelos grevistas, na tarde do sábado também foi promovida uma Feijoada Solidária que teve arrecadação voltada ao fundo de greve, em evento com apoio do SJSP que lotou o Projeto Saberes e Sabores, na Vila Industrial, com a cozinha aos cuidados dos chefs Marcelo Reis e Manuel Alves Filho, e apresentação musical do Quarteto de Cordas Vocais.
Presidente do SJSP, Paulo Zocchi destacou o sucesso da feijoada por todo apoio dos voluntários que permitiram a realização do evento e pela presença das mais de 200 pessoas que estiveram no almoço colaborando com o fundo de greve dos jornalistas da RAC.
“Foi um apoio importante, desde os companheiros que cederam o local e fizeram a feijoada até o grupo musical que tocou em apoio aos grevistas, além do apoio social da população e político de outros sindicatos, de movimentos sociais e dos diversos parlamentares. Isso fez do evento uma atividade forte, de apoio político aos grevistas, mostrando que os cinco meses de greve despertam muita admiração e solidariedade aos jornalistas da Rede Anhanguera de Comunicação”, disse Zocchi.
O sindicalista também ressaltou que o protesto e a feijoada deram fôlego aos grevistas para que persistam na luta, e, com isso, “para que a empresa finalmente cumpra a decisão judicial colocando em dia os salários atrasados e cumprindo efetivamente com suas obrigações trabalhistas”, completou o presidente do SJSP.
Na feijoada, os grevistas receberam o apoio e a solidariedade do vereador da capital paulista, o ex-senador Eduardo Suplicy (PT), de vereadores de Campinas, como Mariana Conti (Psol), e de deputados estaduais de vários partidos, entre os quais Gustavo Petta, do PCdoB. Representando o SJSP, a atividade ainda teve a presença da diretora de base Fernanda de Freitas, e de Márcia Quintanilha, dirigente do Sindicato e representante da entidade na Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Colabore com o fundo de greve e apoie a luta dos jornalistas
A arrecadação ao fundo de greve prossegue e o apoio é imprescindível para que os jornalistas possam dar continuidade à luta pelo pagamento de salários. A gestão dos recursos é feita pelos próprios grevistas.
Para colaborar, basta depositar ou transferir qualquer valor para a seguinte conta corrente:
Caixa Econômica Federal
Agência 4070
Conta corrente 1143-3
(caso o depósito ou transferência seja entre contas da Caixa, o código da operação é 003)
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
CNPJ 62.584.230.0001-00
Também é possível apoiar os grevistas participando do abaixo-assinado pela internet, no qual os jornalistas solicitam à Associação Brasileira de Imprensa (ABI) que pressione a empresa a cumprir a sentença ou para que a RAC ao menos dialogue com seus trabalhadores e trabalhadoras. Para assinar, clique aqui.
Confira a íntegra da Carta Aberta distribuída à população de Campinas
“Carta Aberta à População
Greve de jornalistas do Correio Popular é exemplo de resistência e solidariedade.
Apesar de condenados, donos da RAC continuam sem pagar salários e direitos trabalhistas.
Os jornalistas da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), que publica o Correio Popular, o mais importante jornal impresso de Campinas e região, estão em greve há quase 160 dias, a maior paralisação do jornalismo no estado de São Paulo. Cruzar os braços foi a única alternativa para os trabalhadores e trabalhadoras depois de mais de dois anos enfrentando constantes atrasos no pagamento de salários e benefícios.
Além dos salários em aberto desde fevereiro, a RAC deve o 13º de 2017, o adicional aos que saíram de férias nos últimos dois anos, seis meses de vales alimentação, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e contribuições previdenciárias, mais os dias parados durante a greve.
Em dissídio de greve, em que foram representados pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e pelo Sindicato dos Empregados da Administração das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de São Paulo, o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15) decidiu, por unanimidade, que a paralisação é legítima e legal, condenando a RAC a pagar toda a dívida, sob pena de multa diária.
O julgamento aconteceu no início de maio, mas, em vez de cumprir a decisão judicial, a empresa solicitou embargos de declaração, instrumento jurídico no qual pede esclarecimentos sobre a sentença, e assim ganha tempo para continuar adiando o pagamento das dívidas com os cerca de 200 profissionais da rede.
Na verdade, a intenção dos donos da RAC é pressionar os grevistas e enfraquecer a paralisação, jogando trabalhadores e trabalhadoras em uma grave crise financeira pessoal e familiar. Além de adiar o cumprimento da decisão do TRT, a empresa pratica outras irregularidades, que vão desde o desconto dos dias parados e o não pagamento dos vales refeição e alimentação aos grevistas até a contratação de jornalistas temporários e a escala de estagiários para a produção de matérias, práticas totalmente ilegais.
Mas os grevistas resistem na luta por justiça e dignidade, contando com a solidariedade da população. Por isso, a população da Região Metropolitana de Campinas (RMC) precisa saber que os donos do Correio Popular não pagam salários aos jornalistas, gráficos e administrativos, sonegam contribuições obrigatórias como empresários e exploram e desrespeitam trabalhadores e trabalhadoras, os verdadeiros responsáveis pela credibilidade das publicações da RAC.
Campinas, 21 de julho de 2018”