Quando a manifestação organizada pela CUT São Paulo contra a reforma da Previdência entrou na Rua São Bento, no centro da capital paulista, nesta quarta-feira (13), uma pessoa que caminhava pelo local pediu para usar o microfone e dizer algumas palavras. O pedido foi prontamente aceito. A marcha que havia saído minutos antes da frente do prédio do INSS e se dirigia para a prefeitura então parou para ouvir.
Com voz firme e clareza no pensamento, a comerciária Cristiane Munin, de 48 anos, criticou de modo veemente a reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer. Em poucos minutos, seus argumentos se mostraram em concordância com o que vem sendo apresentado por parlamentares da oposição, sindicatos e movimentos sociais.
Ao terminar o discurso e ser aplaudida, Cristiane explicou que seu sentimento é o mesmo de muitas pessoas com as quais ela convive. “Como eu, várias pessoas gostariam de falar. A gente percebe que as pessoas estão notando que a coisa não está indo bem, está cada vez pior. A gente não está tendo melhora. Falam que o mercado está ‘aquecendo’… Isso é conversa. Falam que está ‘melhorando’, melhorando o quê?”, questionou.
Ela ponderou que a Previdência é uma conquista do povo brasileiro e disse ser “absurda” a mudança proposta pelo governo. “Na realidade, não temos déficit na Previdência, porque se tivesse eles não fariam a desvinculação do que sobra pra pagar a dívida pública, e eles fazem isso todo ano”, explicou, enfatizando a parcela da arrecadação da Previdência desviada para o pagamento da dívida pública. “Então como o governo diz que tem déficit?”
Cristiane ainda criticou o perdão de dívidas de empresas e afirmou ser esse o momento para a população brasileira reagir. “A gente tem que realmente fazer alguma coisa, se não daqui a pouco vai estar todo mundo sem emprego, sem previdência, sem saúde, sem educação, sem nada”, afirmou.
Trabalhadora no comércio varejista, ela afirmou conhecer muitas empresas que estão fechando as portas e muita gente desempregada. “No Brasil temos que ser muito pé no chão. Quando você passa dos 50 anos, a probabilidade de conseguir emprego é muito pequena. E se conseguir é com salário bem baixo. Se você vai fazer a sua aposentadoria em cima dos últimos oito anos de contribuição, com 65 anos, não importa o quanto contribuiu antes, então é só fazer a conta. Na verdade, você vai se aposentar por um salário mínimo, essa é a realidade”, criticou.
Mobilização
Antes da participação espontânea de Cristiane, o ato havia começado em frente ao edifício do INSS, no Viaduto Santa Ifigênia, também na região central. Ali, o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, já havia falado sobre a situação superavitária da Previdência e criticado recursos que a União deveria aportar no sistema, mas não o faz, como recursos do PIS/Pasep.
“O governo também não cobra daqueles que devem pra Previdência, incluindo bancos com lucros vultosos”, criticou, lembrando ainda as isenções dadas pelo governo federal para inúmeras empresas. “O déficit da Previdência é uma balela, uma falsa verdade que o governo coloca.”
Ainda diante do prédio do INSS, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, disse que a entidade tem denunciado para os trabalhadores como a reforma de Temer irá afetar suas vidas. “Os bancários já entenderam muito bem o que vai acontecer, que não vão conseguir se aposentar e nem terão renda”, afirmou, para em seguida reforçar a orientação de pressionar os deputados federais para que não aprovem a proposta de “reforma” da Previdência.
Ao final da manifestação, já diante do prédio da prefeitura, no Viaduto do Chá, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, destacou as diferenças na expectativa de vida em estados do Nordeste e até mesmo em bairros da cidade de São Paulo, onde as pessoas vivem menos do que 60 anos, idade inferior aos 65 anos mínimos propostos por Temer para o trabalhador se aposentar.
“A combinação de idade de 65 anos com o tempo de contribuição faz com que, na prática, a aposentadoria acabe”, afirmou Vagner. “Nós ganhamos a opinião pública, o povo sabe o que vai acontecer, então não podemos baixar a guarda.”
Amanhã, representantes das centrais sindicais vão se reunir na CUT para avaliar a tramitação da proposta e decidir sobre os próximos passos da mobilização contra a ofensiva do governo.
Escrito por: Luciano Velleda – Rede Brasil Atual
Foto: Roberto Parizotti