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Ao aprovar plano de Trump, Conselho de Segurança da ONU subordina Gaza à tutela internacional e abandona povo palestino à própria sorte; presa por Israel, a jornalista palestina Farah Ayyash denuncia tortura

O Conselho de Segurança da ONU aprovou na terça-feira o plano do governo Trump para Gaza por 13 votos a zero, com abstenções da Rússia e da China. A resolução autoriza uma força internacional de estabilização a trabalhar para desmilitarizar a resistência palestina em Gaza, garantindo “o desarmamento permanente de grupos armados não estatais” e autorizando-a a “usar todas as medidas necessárias para cumprir seu mandato”. A resolução também aprova a criação de um “conselho de paz” com ampla autoridade sobre Gaza, incluindo a supervisão da reconstrução, segurança, recuperação econômica e a coordenação da distribuição de ajuda humanitária. A autorização para o conselho e para a força internacional de estabilização expira no final de 2027.

A resolução não estabelece um cronograma para a criação de um Estado palestino independente, mas afirma que, após o avanço da reconstrução e a implementação de reformas na Autoridade Palestina, “as condições poderão finalmente estar reunidas para um caminho viável rumo à autodeterminação e à formação de um Estado palestino”.

O presidente Donald Trump comemorou a aprovação do Conselho de Segurança da ONU à sua proposta de “Conselho da Paz”, afirmando que o presidirá ao lado dos “líderes mais poderosos e respeitados” (seu genro Jared Kushner e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair) e classificando a aprovação como “uma das maiores” da história da ONU. Ele alegou que a medida trará “mais paz para o mundo todo” e destacou o apoio do Catar, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Indonésia, Turquia e Jordânia.

Antes da votação, o embaixador dos EUA, Mike Waltz, alertou que “um voto contra esta resolução é um voto para retornar à guerra”, enquanto Washington pressionava os membros a apoiarem o plano. O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou cinicamente nas redes sociais: “Acreditamos que o plano do presidente Trump levará à paz e à prosperidade porque insiste na desmilitarização, no desarmamento e na desradicalização completos de Gaza”.

Horas antes da votação do Conselho de Segurança da ONU sobre o plano para Gaza apoiado pelos EUA, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, intensificou as ameaças à Autoridade Palestina (AP), afirmando que seu presidente Mahmoud Abbas deveria ser colocado em “isolamento solitário” e que altos funcionários da AP deveriam sofrer “assassinatos seletivos” caso a ONU avance com o reconhecimento de um Estado palestino, que ele descartou como um projeto de um “povo inventado”. O Times of Israel relata que Ben-Gvir disse à sua facção que Israel deve preparar ordens de assassinato e mandados de prisão, acrescentando que “uma cela de isolamento está pronta para ele na prisão de Ketziot”.

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, em reunião com a sua própria facção, prometeu bloquear “qualquer caminho” para a criação de um Estado palestino e insistiu que qualquer Estado desse tipo deveria ser estabelecido em “países árabes” ou na Europa, mas “não aqui”, onde, segundo ele, Israel manterá “total soberania”.

A AP saudou a resolução do Conselho de Segurança da ONU e afirmou estar pronta para implementá-la imediatamente. O Hamas, porém, criticou duramente a resolução, afirmando que a proposta patrocinada pelos EUA não atende às demandas e direitos palestinos e não reflete o sofrimento que o território tem vivenciado nos últimos dois anos. Num comunicado, o Hamas declarou que a decisão não está à altura dos direitos políticos e humanitários do povo palestino, especialmente em Gaza, que, segundo ele, sofreu “uma guerra de extermínio e crimes sem precedentes”, cujos efeitos persistem apesar do suposto cessar-fogo.

A resolução do Conselho de Segurança impõe um mecanismo de tutela internacional sobre Gaza, o qual o Hamas rejeita, afirmando que ela “busca atingir objetivos que Israel não conseguiu alcançar por meio de operações militares”. Separa Gaza do restante do território palestino e cria novas condições que minam o direito palestino à autodeterminação e ao estabelecimento de um Estado independente com Jerusalém como sua capital. O Hamas enfatiza que “a resistência por todos os meios é um direito legítimo segundo o Direito internacional”, acrescentando que a questão do armamento das facções palestinas é um assunto nacional interno que só pode ser discutido dentro de um quadro político que ponha fim à ocupação.

O grupo também criticou qualquer papel desempenhado por uma força internacional dentro de Gaza que inclua tarefas de desarmamento, afirmando que isso retiraria a neutralidade dessa força. O Hamas avalia que qualquer força potencial deveria limitar seu papel à separação de forças e ao monitoramento do cessar-fogo ao longo das fronteiras, atuando sob a supervisão da ONU e coordenando-se exclusivamente com as instituições palestinas, sem qualquer participação de Israel.
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Farah Ayyash, jornalista de 24 anos, está presa em Israel desde 6 de agosto

Por meio de seu advogado, a jornalista palestina Farah Abu Ayyash, de apenas 24 anos, presa por Israel, descreveu um padrão contínuo de tortura por parte de israelenses, começando com sua prisão no meio da noite, em 6 de agosto de 2025, na cidade de Beit Ummar, ao norte de Hebron, na Cisjordânia. Ela foi amarrada a uma cadeira sob água suja e gotejante na prisão de Karmeh Tzur, relatou, submetida a amarras de plástico apertadas que cortaram uma artéria, atacada por cães e mantida em confinamento solitário antes de ser forçada a desbloquear seu telefone para seus captores israelenses.

A jovem Farah expressou decepção com o fato de seus colegas no Ocidente não terem intercedido por sua liberdade. “Estou magoada com meus colegas jornalistas. Eles não pressionaram nem se manifestaram pela minha libertação. Fui presa por causa do meu trabalho. Espero que todos os jornalistas livres me ouçam”. Seu pai, Mohammed Abu Ayash, disse ao Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), entidade que atua em Nova Iorque (EUA), que as forças israelenses invadiram a casa, revistando-a e saqueando-a, antes de deter sua filha, que trabalha para a agência de notícias iraniana Tasnim.

Na terça-feira, forças israelenses balearam e feriram um cinegrafista da Al Jazeera em Tulkarem, o jornalista Fadi Yassim, e uma criança na Cisjordânia ocupada. Yassin estava cobrindo um protesto perto do campo de refugiados de Nour Shams, organizado por palestinos que exigiam permissão para retornar às suas casas após uma incursão do Exército de Israel. Quatro palestinos foram presos.

Um israelense morreu e três ficaram feridos em um suposto ataque com carro e facadas em um cruzamento perto de Hebron, na Cisjordânia ocupada. Os dois suspeitos do ataque foram mortos no local por forças israelenses, segundo a Rádio do Exército de Israel.

Segundo a agência de notícias Wafa, sete palestinos foram presos pelas forças israelenses em incursões em Belém e no campo de refugiados de Jalazone nesta terça-feira, 18 de novembro. O Exército israelense também realizou incursões em Nablus e nas aldeias vizinhas.

Um tribunal de Tel Aviv decidiu que um menino palestino autista de 14 anos, de Jaffa, que relatou ter sido abusado sexualmente por guardas e outros detentos, deve retornar à mesma prisão para cumprir detenção temporária, segundo o jornal Haaretz. O menino, acusado de “crimes contra a segurança”, tentou repetidamente envolver as autoridades israelenses, incluindo o Serviço Penitenciário, mas seus pedidos de ajuda foram ignorados, de acordo com seu defensor público e sua mãe. Ele retornará ao tribunal na próxima semana.

Os incidentes relatados acima são uma pequena parte do acelerado processo de expansão colonial promovido atualmente por Israel nos territórios da Cisjordânia. Colonos israelenses invadiram duas aldeias palestinas na Cisjordâniana segunda-feira, 17, após o Exército de Israel abandonar um posto avançado nas proximidades. Na aldeia de Umm al-Butm, dezenas de colonos incendiaram um prédio e veículos e agrediram mulheres palestinas em suas casas, incluindo uma senhora de 66 anos que precisou ser hospitalizada.

Horas depois, colonos incendiaram três casas e três veículos na aldeia de Jab’a. “Aconteceu um desastre aqui – e tudo na frente dos soldados e da polícia”, disse um morador de Umm al-Butm ao Haaretz. Na maior parte dos casos, o Exército e outras forças israelenses de segurança acobertam e protegem as agressões e até assassinatos cometidos por colonos israelenses, numa onda de ataques que teve início durante a colheita de azeitonas nas propriedades rurais palestinas.

(Texto redigido com base em informações publicadas por Drop Site News, Middle East Monitor e Haaretz)

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