Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
Logo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Logo da Federação Internacional de Jornalistas
Logo da Central Única dos Trabalhadores
Logo da Federação Nacional de Jornalistas

“Jornalismo não é crime!”

Eduardo Viné Boldt

O jornalista palestino Mohammed Omer visitou a sede do Sindicato dos Jornalistas de SP na sexta (9). Ele esteve no Brasil para participar de eventos e promover o seu livro “Em estado de choque – sobrevivendo em Gaza sob o ataque israelense” (Autonomia Literária, 2017). Omer já escreveu para diversos veículos, como The New York Times, Washington Report on Middle East e Al Jazeera.

O jornalista conheceu as dependências do SJSP e conversou brevemente com o presidente Thiago Tanji sobre a guerra e sobre a situação dos jornalistas palestinos frente ao genocídio promovido por Israel nos mais de 10 meses de guerra.

Assista a conversa em vídeo ou leia logo abaixo.

Thiago Tanji: Bem-vindo ao nosso sindicato. Aqui é um lugar histórico na defesa pelos direitos humanos, na defesa da paz e defesa da democracia. É uma honra receber você aqui. Gostaria que você pudesse descrever aos nossos jornalistas, para o povo do Brasil, o que está acontecendo com os jornalistas as pessoas em Gaza.

Mohammed Omar: Muito obrigado por me receber no Sindicato. Estou muito satisfeito com esta informação (apoio a causa palestina), e por ser apresentado ao trabalho que vocês estão fazendo em nível nacional, regional e internacional. Estou aqui como parte da promoção do meu livro “Em estado de choque”, que foi traduzido para o português. E estou muito animado com esta oportunidade de me conectar com os brasileiros. É a minha primeira vez na América Latina, a primeira vez no Brasil. Fiquei impressionado com a diversidade e cultura das pessoas. Isso o torna mais resiliente e bonito, e muito acolhedor.

A Faixa de Gaza vive sob a situação mais drástica, dado aos constantes ataques israelenses à população civil. Vou me concentrar na profissão de jornalismo, já que vocês estão trabalhando nesta área. Gaza perdeu 165 jornalistas palestinos e, desde o início desta fase da guerra, em dez meses, Israel
não permite que jornalistas internacionais entrem na Faixa de Gaza.
Portanto, há um acesso limitado à informação. Jornalistas estão lutando, e as infra-estruturas jornalísticas foram completamente destruídas. Na maior parte da Faixa de Gaza o jornalismo está se tornando um crime. Você vê todos mirando nos jornalistas.

Mas gostaria que vocês enfatizassem, através de discussão com o presidente Lula e todos os diferentes líderes da região, para garantir a proteção dos jornalistas e das suas famílias. Isto é muito importante. Não estamos falando apenas de 165 Jornalistas palestinos que foram mortos em Gaza. Além disso, 1.000 membros de suas famílias foram mortos.

Imagine alguém que faz a escolha de se tornar jornalista. Eles vão para a escola de jornalismo e, 5 ou 6 anos depois, um ataque aéreo atinge sua casa e mata a todos que estão dentro. Portanto, os jornalistas são punidos duas vezes. Primeiro, eles são punidos por sua profissão. E segundo, eles são punidos por terem seus familiares por perto. Isso é algo que eu realmente gostaria que vocês defendessem.

Esta é uma mensagem do povo de Gaza. Proteção do jornalismo. Jornalismo não é crime.
E deveríamos permitir que jornalistas de todo o mundo entressem na Faixa de Gaza. Se Israel está realmente promovendo os valores democráticos, é a hora certa para mostrar para a população, e permitir que as equipes de jornalismo entrem. E também para que possa dar um descanso aos jornalistas sobreviventes, que estão servindo dentro de Gaza.

Pelo cessar-fogo e rompimento com o estado de Israel!

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo tem atuado de forma contínua contra o genocído na palestina, participando e promovendo atividades que denuciem os horrores produzidos pelo estado de Israel. A entidade mantém uma sessão chamada “Dossiê Genocídio em Gaza”, que permite com que os jornalistas e interessados possam ter contato com informações que não são priorizadas em veiculos de comunicação hegemônicos.

Entre diversas atividades, o SJSP promoveu junto com outras entidades, no dia 27 de fevereiro de 2024, o Ato Contra o Massacre dos Jornalistas Palestinos na Faixa de Gaza. O encontro, realizado no auditório Vladimir Herzog, produziu um documento, entitulado Manifesto dos Jornalistas Brasileiros. O manifesto exige o cessar-fogo imediato e o rompimento diplomático com o estado de Israel. Ele contém mais de 90 assinaturas de entidades e jornalistas listados nominalmente.

O documento foi entregue dia 25 de março de 2024 a Fábio Manzini Camargo, Diretor dos Escritórios Regionais de Representação, da Secretaria de Relações Institucionais, e para Antônio Aparecido da Silva Pinto, o Antonio Padre, assessor técnico do escritório. O manifeto foi endereçado ao presidente Lula e a seus ministros Alexandre Padilha (SRI), Paulo Pimenta (SECOM), Mauro Vieira (MRE), José Múcio Monteiro Filho (MD), Ricardo Levandowski (MJSP), Silvio Almeida (MDH), e a Celso Amorim, Assessor-Chefe da Assessoria Especial do Presidente da República do Brasil.

da esquerda para a direira. Antônio Padre, Eduardo Viné Boldt, Evany Sessa,  Thiago tanji, Fábio Manzini e Paulo Zocchi.
Da esquerda para a direita: Antônio Padre (SRI), Eduardo Viné Boldt (SJSP), Evany Sessa (SJSP), Solange Santana (SJSP), Thiago Tanji (SJSP), Fábio Manzini (SRI) e Paulo Zocchi (SJSP). 25/03/2024. Foto: Divulgação

MANIFESTO DOS JORNALISTAS BRASILEIROS:

ISRAEL, PARE DE MATAR JORNALISTAS PALESTINOS! CESSAR-FOGO JÁ! BASTADE GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO!

Ilmo. sr. Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva
Ilmo. sr. Ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Roberto Severo Pimenta
Ilmo. sr. Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira
Ilmo. sr. Assessor-Chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Luiz Nunes Amorim
Ilmo. sr. Ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho
Ilmo. sr. Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski
Ilmo. sr. Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida

Nós, abaixo-assinados, estamos hoje reunidos no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo realizando o Ato Contra o Massacre dos Jornalistas na Faixa de Gaza. Nos encontramos no auditório que homenageia o jornalista judeu Vladimir Herzog, assassinado sob tortura pela ditadura militar, em crime bárbaro que até hoje continua impune.

Na data de hoje, 27 de fevereiro de 2024, o Estado de Israel bombardeia implacavelmente a Faixa de Gaza há 144 dias, matando até o momento cerca de 30 mil palestinas e palestinos, incluídas mais de 12 mil crianças. Há dez dias, o presidente Lula, em Adis-Abeba, capital da Etiópia, disse a verdade que o mundo precisava ouvir: “Na Faixa de Gaza, não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio”. Lula tem razão! Vemos diariamente as Forças Armadas mais bem equipadas e treinadas do Oriente Médio atacando crianças e mulheres numa ação explícita de extermínio do povo palestino.

Os jornalistas, no exercício de sua ati- vidade profissional, têm sido alvos específicos da máquina de guerra. A atividade jornalística de simplesmente documentar e reportar fatos mostra-se intolerável para o Estado de Israel. Segundo a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), nestes 144 dias de ataques contra Gaza, mais de 100 jornalistas foram assassinados(as). No Estado de Israel e nos territórios palesti- nos ocupados, há dezenas de jornalistas na prisão, na maior parte dos casos sem qualquer acusação. É uma situação sem precedentes de ataque à atividade jornalística, atestado tanto pela FIJ como pelo Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) e outras organizações de defesa da liber- dade de imprensa. Ao longo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), pelos dados disponíveis, foram mortos 69 jornalistas.

No Brasil, entidades vinculadas ao Estado de Israel tentam censurar vozes contra o genocídio em curso, como se vê nos ataques ao jornalista Breno Altman, diretor do site noticioso Opera Mundi. É o caso também das ameaças à vida do jornalista Andrew Fishman, editor do site noticioso Intercept Brasil. Ambos merecem solidariedade, apoio e defesa das entidades democráti- cas e das que representam os jornalistas.

Nós, jornalistas e entidades do jor- nalismo brasileiro, nos manifestamos pelo cessar-fogo imediato na Palestina e pelo fim do bloqueio à Faixa de Gaza. Apoiamos a decisão do governo brasileiro de convocar ao Brasil o embaixador brasileiro em Telaviv, Frederico Meyer. Repudiamos os ataques do governo israelense ao Brasil e ao presidente Lula, cujas declarações foram não só corretas, como imprescindíveis.

O Estado de Israel é estruturado por um complexo industrial-militar conectado aos interesses dos Estados Unidos e da União Europeia no Oriente Médio. O Estado brasileiro destina volumosos re- cursos financeiros para acordos militares de cooperação das Forças Armadas, modernização de equipamentos bélicos e aquisição de insumos de guerra e segurança pública, incluindo treinamento e capacitação da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias estaduais. Os métodos israelenses de repressão a protestos populares ensinados nas academias policiais no Brasil, bem como seus respectivos equipamentos, colaboram para que jornalistas sejam alvos de violência policial quando realizam seu trabalho na cobertura de manifestações. Conclamamos o governo brasileiro a aderir à Campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel e, assim, romper todos os acordos e convênios com a indústria militar e as instituições israelenses.

A situação exige que o Brasil rompa relações diplomáticas com o Estado de Israel até o cessar-fogo definitivo na Palestina.

É necessário barrar o genocídio imediatamente!

Primeiros signatários:

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal)

veja também

relacionadas

mais lidas

Pular para o conteúdo