Hoje nós do Intercept Brasil fomos surpreendidos com essa publicação no site do sindicato. Não fomos sequer procurados pelo SJSP para comentar as – graves – acusações. Sentimos necessidade de responder porque o SJSP sabe, melhor do que ninguém, o quanto a nossa indústria está em crise. O quanto veículos independentes têm sofrido para se manterem vivos.
Como é de amplo conhecimento público, o Intercept Brasil era, até 2022, ligado ao Intercept dos EUA, e a maior parte do nosso orçamento vinha de lá. Naquele ano, conseguimos convencê-los a não fechar nossa redação, nos separamos, mantivemos os empregos que pudemos, e iniciamos uma intensa campanha de arrecadação para garantir nossa sustentabilidade.
Como é de amplo conhecimento público também, a mudança no contexto político no Brasil fez com que muitos financiadores filantrópicos deixassem de financiar instituições brasileiras – e o jornalismo foi um dos principais impactados. A falta de recursos é um problema coletivo. Além disso, a dependência de plataformas digitais tem derrubado o alcance consideravelmente de veículos de mídia – problema que o SJSP também deve estar acompanhando.
Portanto, uma conjunção de fatores desfavoráveis fez com que os cortes na equipe fossem inevitáveis – para garantir a própria sobrevivência do Intercept Brasil. Os profissionais foram desligados por várias razões, que não cabe detalhar para não expô-los, mas a principal delas é que o Intercept precisou se reorganizar e se reestruturar em várias frentes para manter nossa missão de pé, dentro do curto orçamento que temos hoje. Essencial destacar que todos os direitos trabalhistas foram pagos integralmente e todas as leis aplicáveis foram seguidas.
Comparar a situação de um veículo independente e sem fins lucrativos com demissões em big techs, que sabidamente têm lucros bilionários e violam sistematicamente direitos, mostra má-fé.
Importante destacar também que não é verdade que não houve diálogo com a diretoria. Na reunião, o TIB não foi avisado sobre prazo. Depois – antes do feriado – foi estabelecido um prazo unilateral e curto. Nossa equipe, inclusive, respondeu hoje de manhã avisando que teria uma resposta hoje. Horas depois, vocês fizeram sua publicação.
Ao colocar em xeque o principal meio de sustentabilidade do Intercept Brasil, o SJSP e a Fenaj também ameaçam a sobrevivência do nosso jornalismo que continua vivo e pulsante, com uma equipe brilhante que segue trabalhando incansavelmente. Basta olhar nossas últimas publicações – nunca deixamos de publicar reportagens.
É lamentável a instrumentalização do SJSP – uma entidade fundamental para o jornalismo, e da qual somos parceiros de trincheira, se prestar a esse papel. Infelizmente, essa má-fé não só prejudica o Intercept Brasil, os profissionais que aqui estão, e a possibilidade de negociações contínuas de boa-fé, mas também a reputação de seus sindicatos – e a sustentabilidade do campo do jornalismo independente como um todo.
Atenciosamente,
O Intercept Brasil
Esclarecimento da Diretoria do SJSP
Na última sexta-feira, 3 de maio, a direção do site Intercept Brasil enviou e-mail solicitando que o site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) publicasse uma resposta à nota publicada pela entidade, em que denunciava a demissão em massa realizada pelo Intercept no início de abril sem prévia negociação sindical.
Por não se tratar de uma reportagem jornalística, mas de uma manifestação publicada pelo SJSP, a direção da entidade discutiu se seria pertinente ou não a veiculação da resposta do Intercept Brasil. Avaliamos que, sim, é importante dar continuidade ao debate público como uma maneira de que a nossa categoria possa se apropriar de nossos posicionamentos com a maior transparência. Até porque o posicionamento da empresa já foi publicado em sites jornalísticos.
No último período, representamos jornalistas diante de empresas pequenas, médias e grandes, em todo o estado de São Paulo. Realizamos a defesa da categoria perante diferentes tipos de organizações (inclusive aquelas geridas por sindicatos), bem como organizamos a luta da categoria em órgãos públicos, seja diante da administração municipal, estadual ou federal.
É com muita tranquilidade, portanto, que reafirmamos que o papel fundamental de nossa entidade é dar voz e organizar as e os jornalistas em suas diferentes lutas, com a independência necessária.
Em 2019, o SJSP foi idealizador e um dos organizadores de um grande ato realizado no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP em solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald e à redação do Intercept Brasil, que sofria ataques da extrema-direita após a publicação da série de reportagens que ficou conhecida como Vaza Jato. Já em 2024, realizamos ato para denunciar os assassinatos de jornalistas palestinos pelo Estado de Israel, fazendo a defesa de profissionais de imprensa que sofrem ataques por seu posicionamento crítico ao governo israelense, caso dos jornalistas Breno Altman e Andrew Fishman, diretor do Intercept Brasil.
Não restam dúvidas que reconhecemos a importância do jornalismo independente, se desenvolvendo e florescendo em nosso país, para que possamos garantir uma verdadeira democratização da comunicação e da livre circulação de informações.
Mas defender o jornalismo independente é também defender as condições de trabalho dos profissionais empregados nessas redações, a partir de negociações de Acordos Coletivos de Trabalho, e garantindo que as relações laborais sejam respeitadas, lutando contra a “pejotização”, a precarização e as demissões.
Neste caso, o SJSP mantém o seu posicionamento intransigente de defender a sua categoria e os interesses coletivos das e dos profissionais que se mobilizam diante de situações como aquela que ocorreu com o Intercept Brasil, que demitiu de uma só vez dez profissionais de sua redação, sem abrir qualquer negociação prévia com os sindicatos dos jornalistas de São Paulo e do município do Rio de Janeiro, como exige a boa prática das relações de trabalho.
Logo após o contato com as e os trabalhadores demitidos, enviamos à direção da organização um e-mail no dia 3 de abril pedindo uma reunião em caráter de urgência. Tal encontro só ocorreu quase um mês depois, no dia 29 de abril. Após uma assembleia com os profissionais demitidos, foi deliberado de maneira coletiva que o Intercept Brasil teria um prazo de três dias para responder a uma proposta de pacote adicional de indenização aos demitidos. Com o prazo expirado, foi também decisão coletiva a publicação de nota que denunciava as demissões.
Percebe-se, portanto, que se a direção do Intercept Brasil tivesse agido com tal celeridade quanto sua pronta manifestação à nossa nota, certamente essa negociação poderia ter dado alguns resultados.
Repudiamos de maneira cabal o uso do termo má-fé, por duas vezes, no texto de Intercept Brasil, para se referir ao Sindicato, entidade coletiva de representação dos jornalistas, bem como a acusação de “instrumentalização”, pois, como fica claro, somos sim o instrumento dos jornalistas demitidos de forma arbitrária para lutarem por seus direitos.
De qualquer maneira, insistimos na negociação e estamos à disposição para dar prosseguimento às conversas com Intercept Brasil, sempre visando o melhor para os jornalistas e o jornalismo. E, sobretudo, nossas portas estão sempre abertas para que seja possível avançar em salários, direitos e dignidade.