Com o objetivo de mapear as ocorrências e relacionar a covid-19 como doença do trabalho, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) somaram-se a um grupo de pesquisadores que busca informações de adoecimento por coronavírus junto à diversas categorias, inclusive jornalistas. O projeto de pesquisa, intitulado Covid-19 como doença relacionada ao trabalho, pretende dar visibilidade às atividades de trabalho como fontes de infecção e adoecimento pelo novo coronavírus e obter informações que sirvam de subsídios para os sindicatos planejarem suas ações de prevenção da doença e minimizar as consequências clínicas e sociais.
Os jornalistas tiveram sua atividade considerada essencial durante a pandemia. Dessa maneira, o trabalho presencial dos jornalistas seguiu imprescindível especialmente em alguns segmentos, como os de rádio, televisão e fotojornalismo, propiciando a contaminação dos profissionais pelo novo coronavírus em diversas redações.
Apesar das denúncias que dão conta da contaminação entre profissionais no local de trabalho, os números ainda são incertos e as empresas seguem se esquivando da responsabilidade e não confirmam os números de doentes entre seus profissionais.
Norian Segatto, diretor da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e membro do Conselho Fiscal do SJSP, afirma que os dados preliminares apurados pelo Departamento de Saúde da Fenaj apontam até o dia 16 de janeiro, houve 71 mortes de jornalistas brasileiros, com crescimento da curva de mortes a partir de novembro. “Apenas nos 16 primeiros dias de janeiro deste ano já superamos a marca de mortes de dezembro inteira, que foi o pior mês do ano de 2020. Neste início de janeiro temos registros de 13 óbitos contra 12 de todo o mês de dezembro. É uma situação alarmante, ainda mais se considerarmos que esses números ainda não correspondem à realidade, que, infelizmente, é pior”, constatou Segatto.
Segatto explica que “os jornalistas compõem uma das categorias que está na linha de frente da contaminação por Covid, mas, infelizmente, não há dados oficiais para sabermos a extensão da doença na categoria. Essa pesquisa visa apontar isso e, assim, junto com outras categorias que fazem parte da pesquisa, determinar a Covid19 como doença do trabalho. Além do Sindicato, a Fenaj, a CUT e diversas outras entidades firmaram parceria para buscar essas informações diretamente com os trabalhadores.”
A médica e pesquisadora em saúde do trabalho Maria Maeno reitera que, desde o começo da pandemia, não havia informações concretas sobre as condições de trabalho presencial. “Todo mundo falava dos riscos das pessoas e dos consumidores, o que é justo e importante, mas poucas falavam da saúde do trabalhador que era obrigado a atuar nestas condições”, pontuou.
De acordo Maria Maeno, a pesquisa pretende, a partir do relato dos próprios trabalhadores, dar visibilidade às condições de todos que atuam ou atuaram presencialmente durante a pandemia. “As empresas, em geral, não reconhecem a covid como doença do trabalho e dizem que, por ser uma doença comunitária, o trabalhador tem que provar que adquiriu no trabalho. Mas, como solicitamos que esses setores essenciais continuassem trabalhando, portanto, a sociedade tem que assumir essa responsabilidade civil e social de dizer que os trabalhadores devem ter sua doença relacionada ao trabalho, com seus direitos trabalhistas e previdenciários garantidos”.
Para contribuir com a pesquisa e com o estabelecimento do nexo-causal entre covid e doença do trabalho, o SJSP convida toda a categoria a participar da pesquisa. Todos os jornalistas que trabalham ou trabalharam presencialmente podem participar. Os interessados devem responder um questionário do Google Forms que dura de 10 a 15 minutos. Para responder, clique aqui.
Atuação do SJSP
Com a decretação da pandemia em março de 2020 e com o objetivo de contribuir com a não propagação do vírus, o Sindicato dos Jornalistas tomou duas providências: a suspensão dos atendimentos presenciais e o envio de recomendações às empresas com o objetivo de garantir condições seguras de trabalho aos jornalistas no exercício profissional.
O ofício encaminhado às empresas de todos os segmentos solicitava a implementação imediata de teletrabalho aos profissionais com 60 anos ou mais, gestantes, jornalistas com doenças crônicas e deficiências imunológicas ou que não tivessem com quem deixar os filhos menores ou convivessem na mesma residência com pessoas consideradas do grupo de risco e a readequação do trabalho jornalístico ao teletrabalho no maior número de atividades possíveis.
Recentemente, a ONG Press Emblem Campaign (PEC) realizou um levantamento sobre os jornalistas afetados pela pandemia e ranqueou o Brasil como o segundo país com o maior número de jornalistas mortos de covid no mundo. O levantamento foi feito em 59 países com ajuda de associações de jornalistas nacionais, mídia local e correspondentes da PEC, e soma um total de 655 jornalistas mortos pela doença.