Fundado em 15 de abril de 1937, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) já nasceu experimentado na luta e com plena consciência de que a organização da categoria era decisiva para a conquista de direitos e dignidade. Não era para menos. Antes da criação da entidade, jornalistas eram relegados à completa precariedade. Apesar da aura “romântica” que associava a profissão a boêmios e intelectuais, quem vivia de jornalismo precisava enfrentar duplas, triplas ou até quádruplas jornadas para garantir o sustento.
Como relembra José Hamilton Ribeiro no livro “Jornalistas: 1937 a 1997”, os 52 fundadores do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (entre eles uma mulher, Margarida Izar) tomaram a correta decisão de estabelecer critérios claros para a constituição da entidade, definindo como jornalistas profissionais aqueles assalariados de empresas jornalísticas. Nosso primeiro estatuto deixava explícito que a melhoria das condições de trabalho era a pedra angular do Sindicato, marcando a luta entre capital e trabalho que até hoje orienta nossa atuação.
O compromisso inabalável na defesa da categoria, da democracia e dos direitos humanos teve um marco em 25 de outubro de 1975, quando Vladimir Herzog, chefe de jornalismo da TV Cultura, foi torturado e assassinado por agentes da ditadura militar. Sob a presidência de Audálio Dantas, o Sindicato denunciou publicamente o crime, organizando uma histórica assembleia em nosso auditório (hoje batizado com o nome de Herzog) que resultou no grande culto ecumênico realizado na Catedral da Sé, em 31 de outubro, considerado um dos marcos da resistência e do início do fim da ditadura.
No ano seguinte, mais de mil jornalistas assinaram o documento intitulado “Em Nome da Verdade”, publicado como anúncio pago no jornal “O Estado de S. Paulo”. O texto contestava a versão oficial de que Herzog havia se suicidado e expunha a falta de liberdade democrática no país.
No campo das lutas específicas da categoria, o Sindicato foi responsável pela histórica greve de 1961, que conquistou o piso salarial da categoria e a jornada de cinco horas. Em 1979, ainda sob a ditadura, os jornalistas de São Paulo voltaram a parar, em uma greve que durou sete dias. O Sindicato e seus profissionais também estiveram entre os construtores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ingressando na entidade de organização da classe trabalhadora em 1984.
Nos últimos anos, a categoria tem enfrentado inúmeros desafios. Jornalistas sentem na pele as transformações tecnológicas e materiais que afetam a profissão. Em um cenário no qual poucas famílias controlam gigantescos conglomerados de comunicação e pertencem aos estratos mais privilegiados da classe dominante, profissionais de imprensa convivem cotidianamente com a precarização, as ameaças de demissões e a intransigência patronal, que busca retirar direitos e evita recompor salários sequer pelos índices da inflação.
A conjuntura se agravou após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. Mesmo assim, o Sindicato se manteve firme, organizando a categoria e resistindo às retiradas de direitos materializadas nas reformas Trabalhista e da Previdência Social, que aprofundaram dramaticamente a exploração da classe trabalhadora e demoliram conquistas históricas.
Durante a pandemia, em meio às incertezas globais, o Sindicato manteve sua atuação e protagonizou ações históricas. Em 7 de junho de 2022, a Justiça de São Paulo condenou o então presidente Bolsonaro por assédio moral coletivo à categoria, em ação civil pública movida pela nossa entidade no ano de 2021.
Outro momento marcante ocorreu em 10 de novembro de 2021, quando jornalistas das redações de jornais e revistas da capital paulista realizaram uma paralisação de duas horas, das 16h às 18h, mesmo ainda em home office. Havia décadas que não se via mobilização semelhante!
A vitória de 2021 apenas reforça o que os fundadores do Sindicato já afirmavam em 1937: nós, jornalistas, estamos ao lado das milhões de brasileiras e brasileiros que não têm outra coisa a oferecer à classe dominante além de sua força de trabalho. E temos hoje, mais do que nunca, a convicção de que as empresas jornalísticas podem cumprir sua função social sem os patrões, mas jamais sem as e os jornalistas.

